segunda-feira, 21 de março de 2011

Porque a Geração está à Rasca?

Tenho lido na imprensa uma série de ataques ao movimento que protagonizou o protesto de 12 de Março, na forma de "esta geração é isto e aquilo, estão mal habituados e não querem trabalhar, pensam que devia ser só facilidades e tal". Pior, tenho tido discussões com pessoas reais e, à partida, insuspeitas que alinham nesta linha de pensamento.
Há que discernir as coisas. Não está em causa o facto de a vida não ser fácil, e os tempos são difíceis e a vida está menos fácil ainda. Não está em causa que há demasiados jovens sobrequalificados para um mercado de trabalho exíguo e mingante. Não está em causa que os jovens de hoje estão mal habituados, que lhes têm dado demasiadas facilidades na sua juventude, etc. etc. O que está em causa é um sistema neste país que não dá as devidas hipóteses a quem quer trabalhar e investir, sem cunhas e sem compadrios.
Não vi nenhuma exigência de que o Estado deveria resolver a vida a quem quer que fosse. Apenas vi pedir uma hipótese, pedir que o Estado e os seus agentes fizessem o seu trabalho. Vi pedir que as pessoas fossem vistas como tal e não como gado votante. Vi condenar a maneira como determinados interesses privados conduzem as políticas deste país. Vi renegar a corrupção abundante e despudorada. Vi um pedido de ajuda.
O caso do mercado de trabalho (uma das questões abrangidas pelo movimento Geração à Rasca) é flagrante. O caso das vidas penduradas em empregos mal pagos e sem hipótese de evolução profissional é pungente. Que se passa aqui? O que leva estas pessoas a manifestarem-se?
Certamente não é um caso análogo ao que se verificou no PREC, em que a Geração de Abril foi para a rua exigir a nacionalização das suas empresas, de modo a trabalharem para o Estado, ao mesmo tempo que exigiam salários e direitos incomportáveis com as possibilidades do país (e que conseguiram). Haveria melhor do que trabalhar para a EDP ou PT ou CP ou CGD, ou outra empresa qualquer do Estado, nos anos 80? Sim, era continuar a trabalhar para essas mesmas empresas passados vinte anos.
Vamos lá ver. Andam aí a dizer que "no nosso tempo as coisas eram mais difíceis, não havia tantas facilidades, tínhamos era que trabalhar duro, não tínhamos carro e dinheiro para a discoteca" e tal. Pois, mas a economia do país crescia num ritmo que hoje invejamos, o país andava a endividar-se no estrangeiro barbaramente para pagar as contas do PREC e ainda conseguiu entrar na CEE para ir lá buscar milhões e milhões que esses mesmos "críticos" torraram à tripa forra em tudo menos em coisas com retorno para o futuro.
Hoje: O que leva estas pessoas a estarem à rasca no mercado laboral é a precariedade, os baixos salários para funções exigentes de qualificação superior, os falsos recibos verdes (quando o trabalho é efectuado nas mesmas condições que um trabalhador por conta de outrém com contrato de trabalho, mas sem esse vínculo, com salário inferior e sem quaisquer regalia ou protecção social), a falta de perspectivas de futuro, a falta de reconhecimento do bom trabalho efectuado.
Apesar de toda a sociedade ter culpa no cartório, o Governo/Estado é o principal responsável por esta situação, porque é o principal interveniente, é o legislador e o responsável pela regulação e fiscalização do mercado laboral. Vamos a repartições públicas e vemos tipos a fazer que fazem e ganhar 3000€/mês e ao lado um desgraçado a fazer-lhe o trabalho a ganhar 600€/mês a recibos verdes. Vamos a empresas e assistimos a falsos recibos verdes sem que o empregador tenha qualquer preocupação de vir a ser fiscalizado ou sancionado por isso. Vemos que as empresas procuram os estágios profissionais como fonte de mão de obra barata, dando lugar a elevada rotatividade nos seus funcionários. Vemos que determinadas ordens profissionais regulamentaram situações de escravatura para os membros estagiários, que apenas anseiam eles próprios poderem exercer sobre os que hão de vir. Vemos que as compensações por um trabalho bem feito e abaixo do orçamentado nunca vêm porque a demora nos pagamentos ás empresas é tal que o dinheiro mal vai chegando para as despesas correntes, e quando finalmente vem há o problema endémico da memória curta do empregador.
É correcto que a geração actual seja, na sua maior parte, mimada, consumista, sem noção. Acho. Mas também acho que não tem nada a ver uma coisa com a outra e que anda aí muita pessoa a atirar poeira para os olhos das pessoas, provavelmente com esqueletos no armário.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Que fofo...


...vai trabalhar, malandro!!!
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segunda-feira, 14 de março de 2011

sábado, 12 de março de 2011

Manifestação da "Geração à Rasca", em 12-03-2011

Decorreu hoje em Lisboa, no Porto, Braga, Faro, Castelo Branco, Funchal, Ponta Delgada, Leiria, Viseu, Londres, Haia..., de forma apartidária e pacifíca. Estima-se em 300.000 os manifestantes de todas as idades e credos.
No Porto, a multidão crescente foi desviada para a Avenida dos Aliados que quase que foi pequena demais para os milhares de jovens de todas as idades que lá se juntaram para protestar a situação de entropia geracional em que o país foi colocado por quase 37 anos de desgoverno reaccionário do pós-25 de Abril.
Sem presente condigno e sem garantia de qualquer futuro, a Geração à Rasca protesta e não perde a esperança.
















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segunda-feira, 7 de março de 2011

A Luta continua!


O 47.º Festival da Canção foi fora de série. Não só não ganhou um fado, ou uma música sobre os descobrimentos, ou uma azeiteirice qualquer (não desfazendo), como a música vencedora, "A Luta é Alegria" representa uma verdadeira pedrada no charco estagnado do social-porreirismo português, com ressalto para toda a Europa.
As pessoas, na pacatez do seu lar, pegaram nos telefones, gastaram os seus €0,60+IVA e votaram, sendo que 25% votaram nos Homens da Luta (Gel, Falâncio e restante trupe). Ahhh... se a Democracia fosse tão fácil! Se o voto estivesse à distância de um telefonema de valor acrescentado! Bom... Não interessa: o Povo exprimiu-se!
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