sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Museu dos Cordofones, Tebosa, Braga

A vida tem destas coisas. Comprei uma viola clássica motivado pelo desejo de finalmente aprender a tocar e pela curiosidade do anúncio afirmar ser de fabrico japonês (e ser barata). O negócio efectuou-se durante um temporal, sob o abrigo limitado da porta da bagageira do carro da vendedora. Apenas tive condições para verificar que o braço estava impecável e que faltava uma corda, pelo que regateei mais qualquer coisa e levei a guitarra debaixo do casaco.
Em casa, verifiquei que a guitarra não estava em condições. A pestana estava partida (por isso não tinha o mi) e uma travessa mostrava-se partida no interior do corpo. Não era grande augúrio.
Um amigo sugeriu que a levasse ao dono do Museu dos Cordofones, em Tebosa, Braga. Dado nenhum de nós alguma vez lá ter ido e a meteorologia agradável, impunha-se uma pequena road trip na Dyane da minha querida mãe.
O Museu dos Cordofones fica situado no rés-do-chão de uma moradia face à Estrada Nacional n.º 14, no limite da freguesia de Tebosa com a freguesia de Priscos. Para aceder ao museu, tivemos que chamar o Sr. Domingos Machado que, com o filho, trabalha na sua oficina de fabrico e reparação de cordofones, um sítio muito do meu agrado. Instrumentos de variadas formas e feitios esperam restauro pendurados ou encostados nas paredes, suas idades mantidas misteriosas por uma inescrutável camada de pó de serrim, que empresa um tom marrom a todo o espaço, tornando difícil a percepção de objectos individuais. Talvez as ferramentas eléctricas estivessem invisíveis sob este manto, a verdade é que não vi utilização para a electricidade para além da iluminação artificial que seria necessária após o desaparecer do Sol que entrava pela porta aberta e janela da oficina, viradas a Poente.
Adorei a visita ao Museu, um dos mais ricos de Portugal e da Europa, pelo que nos contaram, bem como as histórias do Sr. Domingos Machado, que envolveram instrumentos de corda e membros dos Beatles. Não vou desenvolver esta questão, julgo que faz parte da mística da imperativa visita ao Museu dos Cordofones e não vos quero estragar a experiência. Também não vou publicar fotografias, podem espreitar o museu aqui, aqui, aqui, saber ainda mais alguma coisa na página da Wikipédia, ler uma boa reportagem sobre o museu aqui, e sabe-se lá que mais andará perdido no etéreo da Internet. Nada disto substitui o prazer de uma visita em pessoa.
Após a visita, apresentei ao Sr. Domingos Machado o outro motivo da minha visita, a minha viola japonesa, da marca Holiday, sobre a qual eu desconhecia tudo e que me levantava dúvidas sobre se valia a pena reparar. O Sr. Domingos assegurou-me que sim, que era uma reparação simples e muito inferior ao valor do instrumento, que prometia ser muito adequado à aprendizagem do seu trato. Portanto, lá a deixei ao seu cuidado, até hoje a ir buscar, já na posse da informação de ser uma viola produzida com a marca Holiday, para o retalhista americano Aldens, pelo fabricante japonês Kawai Teisco. Ficam as fotos...






O autor posa com o mestre artesão, Sr. Domingos Machado


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