Foi graças ao Philippe que descobri a minha predilecção pela fotografia sociodocumental e pelas Nikon manuais. Estávamos na era pré-telemóvel, pré-internet, pré-digital, pré-euro, pré-família, pré tantas coisas que o século XXI nos descarregou em cima. Bons tempos! Em retrospectiva, aquela época pré excesso de informação foi maravilhosa em termos de aprendizagem. Aprendia-se lendo bons livros, vendo boas fotografias e falando com pessoas fantásticas. Sem acesso a um bom mercado de material usado, foi graças ao Philippe, que me aconselhou e tratou das aquisições, enviando o material de Antuérpia, que consegui reunir algumas lentes fantásticas a preço razoável. Aos poucos, fui comprando o material fotográfico que ainda tenho hoje. Nunca tive dúvidas que tinha sido bem aconselhado mas só agora apreciei o quão realmente tive sorte, quer nos conselhos do meu amigo, quer nas (quase todas) poucas outras compras que fiz.
Da esquerda para a direita: Nikkor 24mm f2.8 Ais, 35mm OC f2.0 (Modif.Ai),
50mm f1.8 Ais, 85 f2.0 Ai, 135mm f2.8 Ais
(In)Felizmente, o advento da fotografia digital não foi, para mim, a continuação do sistema Nikon. Tudo o que eu tinha era manual, mecânico, sólido, eterno, mas muito pouco dado aos tempos do digital. Para aproveitar as minhas ópticas, teria que adquirir uma Nikon DSLR com sensor full-frame, vendidas a valores perfeitamente irrazoáveis, enormes, pesadas, um atentado à minha sensibilidade e, com certeza, um retrocesso da minha mui elegante e funcional Nikon FE2.
Nikon Df (€2.750 o corpo) VS Nikon FM2
Todos os créditos da imagem para o autor
Num mundo de opções mais ou menos presas ao passado, pareceu-me mais inteligente adoptar um novo sistema, criado de raiz para a fotografia digital, pelo que adoptei a Olympus e o sistema 4/3. Julgo que foi e é uma grande injustiça que, ainda hoje, a Olympus não tenha conseguido ultrapassar a Canikon (uma brincadeira com o nome dos dois grandes, Canon e Nikon) nas mentes do público. Tecnicamente, é superior em todos os aspectos, com a possível excepção dos modelos full-frame, quando utilizados em fotografia de paisagem. De resto, o sistema é mais coerente, leve, compacto... Mas estou a divagar.
O que interessa saber é que fui fazendo cada vez menos uso das minhas Nikon e belíssimas Nikkor. Pior... Infelizmente, herdei o material do meu Pai, que incluía mais Nikons e Sigmas, Prakticas e Prakticars... Coisas a mais, testemunhos esquecidos da fotografia analógica, no tempo do digital. E, cada vez menos tempo, quer para o laboratório, para a fotografia, para o resto... Portanto, estes anos tenho cumprido a obrigação de arejar periodicamente o espólio, combatendo as pragas do desuso e do armazenamento prolongado. Até que, finalmente, decidi que o que é demais é erro.
Assumi que não ia, previsivelmente, fazer mais fotografia analógica e que perdia o meu tempo a pensar nisso. Assumi que o que não usava na minha vida, por inerência, estava só a fazer monte, a ocupar espaço físico, temporal e mental e que, portanto, a impedir outras concretizações e interesses. Decidi vender.
Mas não consegui levar-me a vender as minhas queridas Nikkor, todas com história, há vinte anos na minha mão. Com excepção das Prakticar (para já), coloquei tudo o resto à venda, Olympus incluído. E comprei um corpo Sony A7 e uns adaptadores para as lentes que tenho.
Sony A7 c/ Nikkor-OC 35mm f2.0
Portanto, estou muito entusiasmado, voltei a pegar no material vintage que tanto aprecio, estou a voltar a pegar no tratamento de imagem digital que tanto tenho para melhorar, sinto-me com vontade de tornar a aprender e fazer fotografia. Vêm aí tempos interessantes!
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