quinta-feira, 8 de abril de 2010

Guerra no Afeganistão

Lembro-me de ter travado conhecimento com o Afeganistão antes de saber que este se encontrava em guerra civil com os soviéticos à mistura, em plena Guerra Fria e reinado de um actor medíocre que chegou um dia a presidente do mais poderoso país do mundo.
Enquanto criança, folheei a edição n.º 120 de Setembro de 1977 da revista Photo (não é memória fotográfica, ainda tenho a colecção de Photo's que palmei ao velhote e, além disso, voltou a ser artigo na edição n.º 389 de Maio de 2002 que comprei por coincidência). Assim travei conhecimento com as fotografias de Roland e Sabrina Michaud, pelo que as minhas primeiras memórias do Afeganistão não são de um país devastado pela guerra e pela miséria humana mas sim de um país em paz e possuidor de uma cultura milenar e diversificada, de um povo orgulhoso e hospitaleiro.
O Afeganistão, como qualquer país possuidor de uma longa história e/ou localizado em encruzilhadas geográficas e/ou culturais, não tem uma história perfeitamente pacífica. Mais invadido que invasor, assistiu ao seu quinhão de passagens de exércitos de grande conquistadores, cruzadas religiosas e lutas de poder. Mas foi persistindo.
Desde que os ingleses perderam o seu interesse no país como tampão do expansionismo do Império Russo em direcção à Índia, e chegaram à conclusão que bombardear revoltosos (pobres desgraçados armados com escopetas de carregar pela boca) usando bombas de gás mostarda atiradas de aviões não pagava a gasolina que os velhos biplanos gastavam, a coisa lá foi indo em paz.
Até que um pequenino golpe de estado practicado em Kabul por um qualquer partido de inspiração marxista-leninista atraiu o interesse dos soviéticos, e por consequência dos ianques. Estes, em mais uma prova da sagacidade que lhes conhecemos, resolveram apoiar os principais revoltosos contra a doutrina sacrílega dos comunistas, uns aceitavelmente misóginos fundamentalistas que tais. Deram-lhes dinheiro, armas, treino militar e apoio dos serviços de espionagem.
Dez anos depois de entrarem no país, os soviéticos foram-se embora cansados de levar no toutiço e deixando um país em ruínas, dominado por senhores da guerra que não existiam no início de 1979. Deixaram também um tal de Osama sem saber o que fazer da vida a seguir.
O resto toda a gente se lembra. Guerra civil sem grande interesse para o Ocidente, zunszuns de um oleoduto, 11 de Setembro de 2001, invasão norte-americana, digo, Nato e mais oito anos de guerra sem fim à vista.
O que chateia, no meio disto tudo, é que até ao 11 de Setembro nós, os europeus, sempre achamos que éramos um nadinha melhores que os estadounidenses porque na verdade amávamos a paz, tínhamos aprendido a lição da 2.ª Guerra Mundial, descoberto o caminho da prosperidade dos povos através da união económica e política, etc.
Tretas. Quando tivemos genocídio a poucas centenas de quilómetros de Bruxelas, não fizemos nada. Agora andamos em guerra há oito anos a defender uma porcaria dum oleoduto a milhares de quilómetros e ninguém se chateia. Sabem porquê? Porque só vai quem quer. Depois do SMO, abolido para gáudio de uma cambada de pacifistas-carneiristas que não se aperceberam que a única coisa que impede uma democracia de andar à estalada pelo mundo fora é precisamente o mau estar criado à maioria que não quer ir mas que não se importam que os outros vão. Assim, o facto das forças armadas portuguesas manterem as fileiras graças a pessoal sem alternativa de emprego e mercenários ansiosos por embolsarem um salário de resto inacessível ao cidadão comum, não nos causa impressão. O facto de andarmos lá a defendermos pelas armas os mesmos interesses que nos tramam cá, sem fim à vista, também não. Vá se lá perceber.

Se, depois de lerem este post, ainda tiverem paciência para se inteirarem mais do que realmente andamos a fazer aos afegãos e a nós próprios, vejam estes pequenos documentários disponíveis on-line em http://rethinkafghanistan.com/videos.php

Paz.

5 comentários:

  1. É sempre uma chatice estar a falar para quem não entende... Vamos mas é mandar todos à fava e passar à clandestinidade!
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. juro que pensava que às 22:38H ia encontrar aqui o sentido da vida.. ou pelo menos da semana?!
    Muito bom. É sempre bom ter alguém por perto que não nos permita ficar de olhos fechados.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  3. opá, eu vir até vim... e então?? cadê?
    Voto na Susana... o sentido da vida?
    :-)

    Alberto

    ResponderEliminar
  4. Obrigado pela visita, espero que tenham gostado. Voltem mais vezes!

    ResponderEliminar