segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

SNS, SOS?

Ia começar este post a maldizer o nosso querido Serviço Nacional de Saúde, mas acho que seria como chover no molhado. Em vez disso vou textualizar a minha ideia salvadora da pátria dos cuidados de saúde previdentes.
Acho que o problema do SNS é o mesmo do Estado. É grande, complexo, mal gerido, cheio de funcionários e, para mal dos seus pecados, foi agora entregue à concessão dos amigos em negócios onde o prejuízo dos gestores não é possível. Face a este cenário, a ideia de acabar com o SNS e entregar a Saúde aos privados ganha corpo, e já há quem se apresente como candidato a Primeiro Ministro com esta ordem de ideias. No entanto, a simples renúncia por parte do Estado dos seus deveres previdentes e sociais e entrega dos cuidados de saúde aos privados não será nunca uma medida tendo em vista os melhores interesses do cidadão comum.
O sector privado tem apenas um único objectivo em vista: o lucro. Isto não é, por si só, defeito! O lucro é saudável numa economia de mercado, especialmente se for reinvestido na economia. O problema é que o Estado tem cultivado estranhos hábitos de investir o dinheiro do contribuinte em infraestruturas internas incontornáveis e logo de seguida atribuir a sua exploração a concessionários ou ainda privatizar as empresas públicas à volta de monopólios. É a mesma coisa que dizer: Estou farto de gastar dinheiro, podes ficar com os lucros! É claro que as empresas privadas sabem que o melhor que lhes pode acontecer é viverem à sombra da bananeira chamada Estado Português. Isso da economia de mercado é muito bonito, mas dá trabalho, é preciso ser competitivo, tem riscos...
Do parágrafo anterior, podemos tirar uma ilação: A Saúde na mãos dos privados seria uma grande festa para estes, mas o cidadão teria que ter bolsos fundos mesmo que fosse o Estado a pagar a factura.
Dou um exemplo, conhecido daqueles que têm ADSE e frequentam clínicas que têm acordos com esta instituição: O tratamento é de luxo, não falta sequer chá e bolachinhas enquanto se espera (pouco). Os médicos são atenciosos e não poupam nas análises, para contentamento dos utentes que pagam apenas uma pequena percentagem do seu custo. No entanto, uma análise leiga não deixa de deixar dúvidas quanto à sua real necessidade. A ADSE paga, e bem, estas análises e procedimentos talvez desnecessários e, como resultado, vê-se na necessidade de colmatar a sangria dos seus fundos com redução de benefícios aos agregados familiares e aumento de contribuições por parte dos funcionários. E, no fim, os utentes não deixam de sentir que, quando as coisas são mesmo sérias, deixam de ser interessantes para o privado, que os remetem para o público. "Vão morrer longe!", parecem dizer.
Ao mesmo tempo, assistimos a situações em que o Estado passa a obrigar os seus funcionários a requerer as suas baixas médicas no SNS, devido à facilidade com que os privados as passam a pedido, na tentativa de reduzir os custos do absentismo dos seus funcionários, recordistas nesta matéria quando comparados com os colegas do sector privado. Há aqui qualquer coisa que não bate certo!

Assim, e finalmente, passo a expor a minha ideia:
Porque não deixar à gestão privada as questões mais mundanas da saúde, nomeadamente as entorses, gripes, constipações, etc., a par das despesas correspondentes com baixas médicas e as suas fiscalizações, retendo o Estado a responsabilidade de tratar os assuntos mais sérios sem olhar a meios para tratar os pacientes? Uma parte das contribuições para a Segurança Social passariam a ser entregues a seguradoras, à escolha do contribuinte, que passariam a cobrir estes custos, enquanto outra parte continuaria a reverter para um SNS centralizado em hospitais distritais (por exemplo) que teriam as melhores condições para tratar os casos mais sérios (acidentes, doenças prolongadas, etc.)? Imaginem um hospital sem pessoas à espera de tratar de entorses ou constipações, apenas dedicado a coisas mais sérias! Enquanto isso, na gestão privada seria lógico o investimento em medicina preventiva e outras medidas no sentido de maximizar o lucro, ao mesmo tempo que teriam de assegurar condições adequadas aos utentes sob pena de perderem o seu alvará! O absentismo seria reduzido quer na função pública quer nos trabalhadores do sector privado, graças ao olhar atento das seguradoras. Os cuidados médicos seriam sérios e completos, graças ao risco de processo judicial e indemnização, ao mesmo tempo que os médicos teriam sempre a válvula de escape que seria a possibilidade de enviar os pacientes sérios para os hospitais do Estado.

Sou um génio, ou simplesmente idiota?

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